O novo clássico Benfica-Braguinha - Por Ricardo Araújo Pereira




Por
Ricardo Araújo Pereira in A Bola

MIGUEL SOUSA TAVARES
16 DE FEVEREIRO DE 2010
O Fernando Guerra pode, pois, tomar nota desde já: dificilmente os portistas e os bracarenses irão reconhecer o mérito de um campeonato ganho pelo Benfica nestas circunstâncias

MIGUEL SOUSA TAVARES
23 DE MARÇO DE 2010
O que me incomoda, sim, é que os elogios aproveitem a tantos benfiquistas que os não merecem. Daqueles que, inversamente, nunca foram capazes de reconhecer mérito às vitórias portistas dos últimos anos

O clube que é referido nas escutas pelo árbitro condenado por corrupção passiva como «o meu Braguinha» tem hoje o privilégio de visitar o estádio do primeiro classificado. Será uma oportunidade inédita para os jogadores do Braguinha de Augusto Duarte verem um estádio cheio de espectadores pagantes. Espero que tragam a máquina fotográfica. Confesso que não sei muito sobre a táctica do Braguinha de Augusto Duarte, mas creio que o Braguinha de Augusto Duarte vai tentar explorar as faixas laterais — e também as faixas laterais das faixas laterais, como no jogo em casa contra o Marítimo, em que a jogada do golo da vitória começou do lado de fora do campo. Não só os laterais do Benfica terão de estar atentos, como seria bom que Jorge Jesus ministrasse um treino táctico aos apanha-bolas. Sobre a equipa do Braguinha de Augusto Duarte, só tenho uma certeza: ao contrário do que aconteceu no jogo contra o Porto, Meyong vai certamente jogar de início. Julgo mesmo que o jogador terá sido poupado no Dragão para se apresentar hoje nas melhores condições. Será, creio, um jogo difícil, na medida em que o Braguinha de Augusto Duarte tem fama de oferecer um prémio de 50.000 euros aos capitães dos adversários do Benfica. Estarão motivadíssimos, os capitães do Braguinha de Augusto Duarte.
OBenfica, que nunca perdeu uma final com o Porto, venceu, sem surpresa, a Taça da Liga. É verdade que Nuno foi incapaz de segurar um remate relativamente fraco de Rúben Amorim, mas é provável que o guarda-redes do Porto estivesse a jogar lesionado por ter as falangetas doridas de redigir comunicados.

Não posso, claro, deixar de fazer uma alusão ao lamentável ambiente de violência que rodeou o jogo. Foi especialmente chocante a conduta daquele hooligan que joga no centro da defesa do Porto. Registo, apesar de tudo, a lucidez de Bruno Alves quando mostrou quatro dedos ao público. Mesmo naquela hora difícil, o central manteve a cabeça fria e foi capaz de calcular a média de golos sofridos pelo Porto nas goleadas contra Arsenal e Benfica: quatro. E fez questão de informar o público da conclusão a que tinha chegado.

Quanto à final propriamente dita, apesar de tudo foi um jogo à antiga: dantes, o árbitro perdoava a expulsão a dois jogadores do Porto e o Porto ganhava. Agora, o árbitro perdoa a expulsão a dois jogadores do Porto e o Porto perde por 3-0. Talvez tenha mudado qualquer coisa, mas o essencial manteve-se.
TENDO em conta a gravidade dos factos que foram ocorrendo fora do campo, é forçoso reconhecer que este campeonato ficará conhecido por causa de factores extra-futebol: para todos os efeitos, este será sempre o campeonato durante o qual foram publicadas as escutas do Apito Dourado no YouTube. Mas o túnel da Luz também teve algum protagonismo. Depois de a Comissão Disciplinar da Liga ter deliberado, de forma completamente absurda, que os stewards eram agentes desportivos, o Conselho de Justiça da Federação veio finalmente pôr ordem na demência e decidiu que os stewards são, na verdade, público. Como é óbvio, fez-se justiça. Parece evidente que os profissionais contratados para controlar o público são, também eles, público. Suponho que, quando um steward falta ao serviço, não seja punido: trata-se de um espectador a quem não apeteceu ir ao estádio nesse dia. E ficaria surpreendido se os stewards agredidos não fossem, eles sim, castigados: ao que pude apurar, nenhum daqueles membros do público agredidos por Hulk e Sapunaru tinha pago o respectivo bilhete. Uma vergonha que não deve passar sem punição.

Agora sim, o castigo de três jogos a Hulk parece adequado à infracção. Recordo que, em Braga, Cardozo foi castigado com dois jogos de suspensão por, como as imagens demonstraram, não ter agredido ninguém. Hulk levou mais um por espancar um segurança. É mais do que justo que as agressões efectivas sejam punidas com mais um jogo do que as imaginárias.

Há, no entanto, alguns pormenores inquietantes no acórdão do CJ da Federação. Os portistas sempre sustentaram que os castigos a Hulk e Vandinho eram igualmente injustos. Faziam parte da mesma sombria cabala que devia ser combatida à força de vigílias. Agora, contudo, dizem que foi feita justiça quando o CJ da Federação manteve o castigo de Vandinho (cuja equipa segue no campeonato à frente do Porto, a propósito). Mais: o Porto mantém que a deliberação da Liga é extremamente iníqua, profundamente injusta, manifestamente reles, deliberadamente maldosa, safadamente ruim. O acórdão do CJ, apesar de não concordar com ela, diz que é, e cito, «legítima». Quem toma decisões legítimas deve indemnizações a alguém? A justiça chega tarde mas chega confusa.

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